Arquivos para 30 de June de 2017

m000170607Ouço nego falando o tempo todo por aí que vive uma vida sem arrependimentos. “Vivo intensamente e não me arrependo de nada”, afirmam de peito aberto, com uma espécie de orgulho, como se essa fosse uma maneira superior de vida: uma vida supostamente desprovida de equívocos.

Sinto pena, sério. Porque a capacidade de arrepender-se é, na verdade, uma dádiva. E não, não ignoro que as pessoas pretendem, com tal expressão, dizer que tudo o que viveram foi válido, e que preferem viver intensamente do que ter medo de arriscar-se com receio de falhar. Entendo perfeitamente a semântica da expressão, da intenção. Mas ainda assim, que coisa triste é, permita-me dizer, não conseguir se arrepender das m***** que se faz.

 Quem nunca fez cagada na vida? Digo, não acho que devemos nos martirizar por erros passados, ou viver uma vida sem graça, sem riscos… Longe disso! A autoindulgência não apenas é necessária, mas vital. Perdoar a si mesmo é imperativo, e você deve fazer todos os dias, exatamente na frequência com que erra. No entanto, há uma abismal diferença entre perdoar-se e viver livre de arrependimentos. Na verdade, só conseguimos nos perdoar se reconhecermos que erramos, e só reconhece que errou quem “muda de ideia” ou arrepende-se. Tendeu?
Viver uma vida sem arrependimentos é viver sem crescimento, estagnado nos mesmos comportamentos patéticos e reprováveis.
Eu, particularmente, me arrependo de muita coisa que fiz, disse e que não fiz também. Eu preferiria, de todo coração, não ter cometido tantos e tão graves erros.
Já pensou nisso? Quanto de nossas vidas não seria diferente caso não tivéssemos cometido tais equívocos. Quantas pessoas a menos você teria ferido? Quantos danos a si mesmo teria evitado? Onde estaria sua vida nesse momento? Quantas coisas seriam diferentes do que do que são agora?
É certo, obviamente, que você não teria aprendido algumas coisas, mas com certeza teria aprendido outras, talvez melhores e mais necessárias… quem sabe? A questão aqui, na realidade, não é mudar o que passou – pois sabemos que NADA pode alterar o passado, mas mudar quem somos agora. O arrependimento não tem eficácia quanto ao pretérito, mas que grande poder ele exerce sobre o futuro! Muda tudo, absolutamente! Ele gira maçanetas dentro de nós, que abrem portas que nem conhecíamos. Portas de evolução e amadurecimento.
É triste, muito triste, a cegueira daqueles que incidem nos mesmos erros pela falta de capacidade de dar meia volta e admitir que aquilo que fizeram foi uma droga, e simplesmente nunca deveria ter sido feito ou dito.
Arrepender-se é reconhecer um erro e deixá-lo de uma vez por todas. Diferente de remorso, de culpa, e outros sentimentos que simula uma mudança de atitude.
Eu coleciono arrependimentos. Eles estão nas minhas prateleiras, como livros já lidos, lembrando-me do que aprendi com eles. Não me perturbam,  não me ocupam, não me atormentam (mais). Porém, me lembram que hoje sou uma pessoa diferente porque permiti que eles chegassem até mim. Que sou melhor porque os concebi. Que perdi coisas e pessoas que amava, porque em momentos em que realmente precisei deles, resisti. Pois tanto o orgulho, como a dor, quanto a cegueira da teimosia, e outros sentimentos perniciosos, podem nos privar da presença necessária e urgente do arrependimento nas nossas vidas.
Vai por mim: nas legendas de fotos, como frase de efeito, fica top, fica muito adulto dizer que vive essa vida “””sem arrependimentos”””. Na vida real, contudo, fica um ciclo vicioso onde saímos de um abismo para outro, estagnados numa existência cheia de erros que não conseguimos retificar.
Se eu puder te dar um conselho, é: Arrependa-se. Quantas vezes for preciso. É lindo, é nobre, é necessário. Agrada a Deus. Viva uma vida cheia de arrependimentos! É somente essa que vale a pena.