Debruçados na Janela de Deus

12 de novembro de 2010 — 4 Comentários

Palavras nada mais são do que “pedaços de nós” em forma de letras ou sons. Cheguei a esta conclusão enquanto meditava sobre o valor que Deus atribui à sua própria Palavra.

A Bíblia nos fala que Deus e a sua Palavra são um, e consequentemente, se nós fomos feitos à imagem e semelhança do nosso Pai, ou como dizem por aí, “uma duplicata em espécie da sua própria categoria”, porque seria diferente conosco?

Nós somos aquilo que falamos, pois as palavras são apenas uma expressão de nós mesmos.

Expressão é a “enunciação do pensamento por meio de gestos ou palavras escritas ou faladas; é o verbo; é o ato de manifestar-se, mostrar-se, dar-se a conhecer”.

As palavras, então, por si mesmas, não têm valor algum. Quando soltas em um dicionário, por exemplo, chegam a ser entediantes, de tão inertes e sem vida. No entanto, quando usadas por nós, são recheadas de significado, pois traduzem aquilo que somos na essência, revelando vontades, emoções, pensamentos e planos.

É por meio delas que expressamos quem somos e o que pensamos a respeito de nós mesmos e do mundo que nos cerca. Por meio das palavras, nós aparecemos de fato.

Porque, quem sabe as coisas do homem, senão o próprio espírito que nele está? (1 Co 2.11)

O mundo interior é vasto, profundo e particular, mas torna-se parcialmente público por meio das palavras, permitindo-nos ser “compartilhados” às pessoas.

Para mim, foi magnífico descobrir que as pessoas nos “experimentam” por meio do que dizemos. Tudo aquilo que somos e nos permitimos expressar, “entra” nelas por meio daquilo que falamos: as nossas opiniões, as nossas experiências, as sensações… Elas “saem” de nós e alcançam as pessoas, levando-nos em porções para dentro delas, pois palavras são muito mais do que fonemas articulados, e infinitamente mais do que letras unidas e pintadas num papel, elas são idéias vivas!

Gosto de imaginar como se nós fossemos uma grande montanha de areia, e as palavras fossem apenas caminhõezinhos carregados de nós, a levar-nos para outros lugares, para onde as enviamos…

Não me admira que Jesus tenha dito que as palavras que ele falara eram Espírito e Vida (Jo 6.63), visto que as letras, os sons e os gestos são apenas veículos pelo qual as palavras se fazem conhecidas, pois na realidade, elas são algo espiritual.

Perceba que as letras se unem para formar um vocábulo, que gera dentro de nós uma imagem, uma idéia, um pensamento. Estas, por sua vez, geram sentimentos que nos fazem reagir positiva ou negativamente.

Foi justamente por essa razão que Jesus falou que havia limpado os discípulos pelas palavras que os tinha falado, pois a sua vida, as suas idéias, o que Jesus era “por dentro”, foi participado aos discípulos por meio das palavras que pronunciara.

Jesus falava, e suas palavras eram mais do que simplesmente sons. Ele falava não só com a voz, mas com a sua própria vida. Por meio das “palavras” ele se comunicava no sentido mais profundo, “dando-se aos pedaços”, partilhando com os discípulos do seu próprio espírito, das suas convicções, dos seus pensamentos, daquilo que ele é em toda a sua essência. As palavras de Jesus penetravam no coração deles e cresciam como uma semente em terra fértil, limpando-os por dentro!

A expectativa de Deus acerca da vida humana era conhecida por Jesus e, com suas palavras ele trazia os discípulos para o mesmo ponto de vista, fazendo-os enxergar a vida de outro ângulo, incitando-os a experimentar a realidade sob uma nova perspectiva, a qual os homens em geral não possuem, justamente por causa das palavras que receberam em discordância com a Palavra de Deus.

Na verdade, percebi que é como se Jesus estivesse “debruçado na janela de Deus”, sendo participante do ponto de vista divino exposto pelas Escrituras e conhecido apenas por aqueles que se dispõem a buscar a verdade com diligência e sinceridade de coração.

Então, da “janela celestial”, ele vê a vida de uma maneira franca, e nos convida a contemplar a mesma paisagem: o horizonte do plano original do Pai, onde nossos umbigos não são o centro do universo e a felicidade não é privilégio de poucos.

Sabe, já estávamos acostumados a “olhar da nossa própria janela”, cuja vista geralmente dá para os terrenos baldios do egoísmo e da ganância. O diabo “semeou” palavras dentro de nós que falam de um mundo cruel e pervertido. Palavras essas, que embaçaram as nossas vidraças e deixaram a nossa casa suja e bagunçada. Palavras que nos fazem pensar sobre nós mesmos e sobre a vida de uma forma diferente daquele que nos gerou.

Deus nos enviou sua Palavra, Jesus Cristo, para nos “tomar pela mão” e nos “debruçar na sua janela”, a fim de apreciarmos a existência do ponto de vista divino, imutável e indefectível, que nos leva à sua vontade que é boa, agradável e perfeita, e é por meio das palavras que ele faz isso.

Atentemos, portanto, para o Espírito e a Vida que estão na Palavra e nos levam a olhar a realidade sob a perspectiva certa!

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (João 15.7)

Luciana Honorata

4 Respostas para Debruçados na Janela de Deus

  1. 

    Um caminhãozinho de você viajou longe para entregar esta mensagem Luciana.

    Vou abrir aspas para deixar você falar um trecho interessante novamente… ”Gosto de imaginar como se nós fossemos uma grande montanha de areia, e as palavras fossem apenas caminhãozinhos de nós, a levar-nos para outros lugares, para onde as enviamos…”

    Maravilhoso! Peço permissão para fazer outra comparação, vamos trocar areia por sal.

    Foi Jesus quem teve a idéia de compararnos assim quando disse que somos o sal da terra, e se o sal perder o sabor para nada mais serve, se não, para ser lançado fora e pisado pelos homens.

    Sinto meu coração pedindo mais espaço no peito quando penso a respeito.

    Quem gosta de cozinhar como eu sabe que bastam poucos gramas de sal para enriquecer o sabor de um quilo de carne (eu não sabia disso quando comecei a me aventurar atras de um avental… rs

    Se somos o sal desse mundo, e se nossas palavras são pedaços de nós, um pouco de nós é suficiente para enriquecer o sabor de muitas vidas, imagine então o que vai acontecer quando nos doarmos profundamente?

    O ato de fé do centurião impressionou a Jesus ao dizer que bastava que Ele dissesse ”uma palavra” e seu servo seria curado. As palavras e a própria vida do mestre converteram o coração daquele oficial do império romano.

    Por isso o Senhor Jesus alertou que se o sal perder o sabor para nada mais serve… Nossas palavras só tem valor no reino de Deus quando são respaldadas por atitudes dignificastes.

    A fé (palavras, quando professa) sem obras (atitudes) é morta.

    Que Deus nos abençoe, sempre.

  2. 

    A Carta de Tiago foi escrita a todos os cristãos do seu tempo e trata de assuntos práticos da vida cristã. O autor fala de pobreza e riqueza; tentação; preconceito; maneira de viver; o falar; o agir, o criticar; orgulho e humildade; paciência, oração e fé.

    Ele põe acima de tudo a necessidade de não somente crer como também agir. Não adianta nada alguém dizer que tem fé se não provar por meio das suas ações que a sua fé é viva e verdadeira. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem ação está morta” (2.26). A verdadeira fé cristã se manifesta em ações cristãs.

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