Há algo dentro de mim que fica desconfortável com discursos de esperança. Sério, de verdade. Eu não fico muito bem quando ouço alguém enfatizar o valor da espera, pois me dá a sensação de estar parada no tempo, inerte e ociosa, enquanto a vida, dinâmica como é, acontece “lá fora”.
Naturalmente, acho que isso se reflete na quantidade de vezes em que vou ao médico, enfrento fila de bancos, ou vou ao cabeleireiro, por exemplo. É que eu fico imaginando quantas coisas poderia fazer enquanto estou sentada no consultório aguardando ser atendida; quanto eu poderia produzir neste “meio tempo” que se dá entre o começo e o final da fila. É de fato muito angustiante para mim.
No entanto, consigo imaginar algo mais inquietante do que isso: viver uma vida de eterna espera.
É assim que muita gente vive. Eu mesma conheço um monte de pessoas que está sempre esperando por algo. Entra ano, sai ano, lá estão elas, “braços cruzados” diante da vida, aguardando pelo grande dia em que tudo irá mudar e sairão da mediocridade. O dia em que a tão esperada “promessa de Deus” irá se cumprir, o príncipe encantado virá tirar a donzela da masmorra, uma carta do Gugu anunciará a entrega da casa própria, Jesus Cristo se apresentará numa visão dizendo “venha e me siga, tenho algo grande para que você realize”, ou sabe-se lá o que cada um tem esperado.
O que eu sei, é que as pessoas continuam aconselhando-se mutuamente a esperar, e a sensação que me dá, honestamente, é que enquanto isso elas estão deixando de viver e produzir, para sonhar e lamentar. É como se estivessem o tempo todo na antessala das suas próprias vidas, olhando o frenesi do mundo pela janela do tempo e vendo tudo acontecendo para os outros, enquanto batem o pé impacientemente esperando por sua vez. Continue lendo…