Você pode ter pensado ao ler o título: “lá vem, mais um texto ‘Deus é contigo, você não está só'”, no entanto, apesar deste ser um tema válido e bastante útil, não é meu intuito abordá-lo por ora.
O fato é que eu percebi que a solidão é mal vista por muitas pessoas. Na verdade, pela maioria delas. Conheço pessoas que têm tanto medo da solidão, e desprezam-na tanto, que não se sentem confortáveis sequer de ir ao banheiro sozinhas, mas têm sempre que convidar alguém para acompanhá-las. Elas precisam de companhia para tudo: dormir, acordar, tomar café, trabalhar, assistir TV, orar, viver… Enfim, difícil mesmo é encarar a solidão e o seu silêncio.
Não que eu considere o isolamento a “nova forma de vida”, ou o ideal para o homem, de forma alguma. Isto seria uma tremenda heresia! Eu sei que precisamos uns dos outros, pois a Bíblia enfatiza este fato, sobretudo no Novo Testamento. Entretanto, pergunto-me como é possível que alguém seja cristão e não saiba apreciar a solidão, isto é, a ausência de companhia física por perto.
Ficar sozinho não somente muitas vezes é uma bênção, como em outras, na verdade, é uma necessidade. Não há como termos comunhão com Deus, se não tivermos momentos solitários. Bons períodos de isolamento irão nos proporcionar excelentes momentos com o Senhor, que aprofundarão o nosso relacionamento com Ele, gerando intimidade.
Deus deseja que o conheçamos de forma particular, pessoal, não apenas como os homens de terno e gravata o apresentam nos domingos à noite. Há um Deus além-púlpito, além-imposição de mãos, além-gabinetes pastorais e além-profetas.
Há um Deus que é Pai, quando procurado para o alento e suprimento do filho que estende os braços. Há um Deus que é amigo, quando precisamos desabafar e chorar no colo de alguém que nos compreenda. Há um Deus que é juiz daqueles que ousam nos afrontar. Há um Deus na solidão do nosso quarto, à espera dos nossos corações rendidos.
Jesus sabia disso. Ele aprendeu a usufruir da solidão naquilo que ela tinha para oferecer de melhor. Aliás, Jesus era especialista em aproveitar o melhor das coisas, das pessoas, das circunstâncias… Ele sabia tirar “leite de pedra”, como diriam os mais experientes, e ele é o nosso exemplo.
Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte. João 6.15
Jesus recolhia-se solitariamente em cima dos montes, onde pudesse falar e só ser ouvido pelo Pai. Algumas vezes durante o dia, outras enquanto todos dormiam. Ele desfrutava de uma “solidão” muito bem-acompanhada, longe de todo o burburinho dos alvoroçados discípulos emocionados com os grandes sinais que operava e das mãos estendidas buscando o pão ou a cura. Longe das “tapinhas” nas costas daqueles que queriam agradá-lo e promovê-lo, e mais longe ainda das palavras ferinas dos fariseus que o perseguiam. Ele distanciava-se de tudo e todos, para ficar somente perto daquele que tinha todas as respostas, para todas as perguntas.
Era ali, na comunhão com o Pai, que ele se fortalecia para mais um dia de renúncia e santidade. Era no silêncio do isolamento que a voz do Espírito de Deus se sobressaía apontando o caminho dos milagres e sussurrando as revelações.
O fato é que, somente quando estamos sozinhos, temos a oportunidade de sondar os nossos corações em busca das convicções que Deus tem depositado neles. Muitas vezes, estamos sem direção simplesmente por que queremos recebê-la em frente à TV, ou enquanto nos dedicamos aos sites de relacionamento e às salas de bate-papo.
Penso que teríamos muito mais luz nas nossas vidas, se aprendêssemos a amar a solidão nos termos certos, e a cultivar esses momentos com mais zelo, tornando-os mais freqüentes e entregando-nos com mais fervor.
Lembremo-nos sempre: Deus é galardoador daqueles que o buscam (Hebreus 11.6b), não diante dos homens, mas na solidão do quarto fechado.
Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. -Mateus 6.6
Luciana Honorata